Sempre morei em casas grandes. A casa onde passei toda a minha infância e adolescência tinha impressionantes 800 metros quadrados. Fui morar na Alemanha, casei, fiquei por lá 15 anos morando em um apartamento de 80 metros quadrados. A nossa vida era ótima, mas eu queria mais. Me lembro que o meu sonho era ter uma sala de jantar – o jantar para os amigos era sempre na mesa da cozinha. Voltei pro Brasil e lá estava eu de novo morando numa casa enorme, dessa vez “só” 300 metros quadrados (inclusive sala de jantar, yeah!). E, como sempre fui apaixonada por decoração, recheada de tudo o que eu achei de mais lindo nas melhores lojas. A casa era perfeita e os negócios iam bem.
Até que, por tropeços que a vida dá e planos que dão errado, eu tive que abrir mão de todas essas coisas que eu, na época, achava que me eram muito importantes. Exato, coisas! Quando penso hoje como lutei pra não perder e como sofri porque acabei perdendo, me sinto ridícula. Quanta energia desperdiçada… Isso mesmo, as coisas se foram e eu continuo aqui, bela e fagueira e, sinceramente? Sem sentir falta de nada! Claro, foi ótimo enquanto durou. Hoje vivemos com muito menos, numa casa muito, muito menor, mas em compensação não temos uma pilha de boletos pra pagar, empregados para administrar, mil assuntos pra resolver e isso é simplesmente libertador.
Me lembro exatamente do primeiro mês que tive que pagar 6 boletos em vez de quase 30, a raiva de ter que lavar meu próprio banheiro passou na hora e eu quase sai dançando pela casa com o meu baldinho e a minha vassoura na mão. E quando eu, sem falar pra ninguém, troquei o super-mega-blaster plano de TV por assinatura que a gente tinha por um infinitamente mais simples e ninguém em casa notou? Dá pra acreditar? Passamos de mais de 100 canais pra menos de 20 e ninguém nem percebeu? Mais uma pra lista de bobagens que se tem e não precisa.
E é exatamente este estilo de vida, mais simples e com menos coisas, que o arquiteto canadense Graham Hill propõe através de sua empresa LifeEdited (vida editada). O lema é o seguinte: Projete sua vida para incluir mais dinheiro, saúde e felicidade com menos coisas, espaço e energia.
“Percebi que a vida tem mais a ver com experiências, flexibilidade e tempo. Quando o lugar em que você mora é menor, você usa menos energia elétrica, tem menos espaço para limpar, gasta menos. Acredito que uma vida simples é mais feliz. Posso ter coisas muito boas, que são mais caras, mas elas duram mais tempo e por isso não preciso ter grandes quantidades. Tenho menos coisas para limpar e menos coisas com as quais me preocupar. Minha vida é mais simples.”
Em seu próprio apartamento de 32 metros quadrados no bairro do SoHo, em Nova York, que ele divide com seu parceiro e dois cachorros, Graham mostra que, aplicando conceitos inteligentes e tecnologia, podemos viver muito bem e com todo o conforto em pequenos espaços.
A mesa de centro, por exemplo, tem pés retráteis e um tampo que se expande. Assim, dá pra ajustar e receber os amigos.
À noite, a sala de estar se transforma em quarto de dormir.
Na cozinha, o essencial: geladeira, forno e um fogão de duas bocas (quem precisa de um fogão de seis bocas?) e coube até uma pequena lava-louças.
Veja aqui neste vídeo, como funciona todo o apartamento.
No caso de Graham, viver com menos foi uma escolha (ele explica tudo aqui neste ótimo TED-Talk), no meu foi uma imposição da vida, mas a conclusão que cheguei é a mesma dele: minha vida hoje é bem mais simples!
Não preciso chegar ao extremo de morar com tudo embutido em 30 metros quadrados, mas certamente muito do que temos e achamos ser de extrema importância, no fundo não precisamos e quando perdemos, nem sentimos falta. Lembram daquela minha tão sonhada sala de jantar? Eu tive uma e em 13 anos usei no máximo 10 vezes. Os amigos vinham e, adivinhem… todo mundo se sentava na cozinha!
Fotos: Christopher Testani para LifeEdited