Semana passada aconteceu em Florença a Pitti Uomo, um dos mais importantes eventos de moda e acessórios para homens, e um dos comentários mais interessantes que li sobre o evento foi o de Suzy Menkes, publicado na Vogue inglesa.
Na sua coluna ela reflete sobre o fato do número de visitantes do evento neste ano ter crescido em 27%
“esta improvável mudança no interesse masculino em roupas – e em uma época onde há tantos problemas no mundo, de terrorismo à queda de câmbio e à derrocada dos preços do barril de petróleo”
e se pergunta:
“seria o smartphone e seu efeito reflexivo, como uma espécie de espelho, o real responsável por deixar os homens mais elegantes? Afinal, não há mais um cartão postal à vista em Florença ou em outros lugares turísticos. Em vez disso, ambulantes oferecem paus de selfies pelas ruas, de modo que até mesmo os visitantes solitários podem tirar uma foto perfeita”.
Não pude deixar de achar engraçado e me lembrar do post “Resolução de ano novo número 1: não vou comprar o ‘pau da selfie’” de Adriana Setti, brasileira/jornalista/blogueira, que mora em Barcelona.
Até alguém inventar o pau da selfie (o cidadão deve estar em Turks & Caicos fumando charuto e rindo da humanidade neste momento), o autofotógrafo compulsivo não incomodava ninguém. Esticava o bracinho, fazia biquinho e mandava sua maravilhosa imagem rodar o mundo sem interferir na paisagem. Agora, lugares turísticos estão lotados de paus da selfie, que interferem na paisagem. Eles também invadiram os shows e passaram a fazer parte da decoração de festas e grandes eventos. Enfim, a selfie começou a incomodar na “vida real”. O pior? O bom e velho hábito da troca de gentileza entre viajantes na hora de tirar uma fotografia (Can you please take a Picture for us?), momento raro de interação entre seres humanos, talvez esteja com os dias contados.
Agora você já pensou nisso? Os smartphones e os paus de selfie, podem ser os responsáveis indiretos por um aumento de muitos milhões nas vendas da indústria da moda?
Quem imaginaria! E a maioria de nós, bobinhos, vendo a febre dos selfies apenas como uma forma de exibicionismo dos pavões, adjetivo, aliás, usado tanto por Suzy Menkes como por Consuelo Blocker em seus post:
Cheguei de manhã em Florença e fui correndo ao Pitti!! Os nossos queridos pavões estavam todos lá, posando para as câmeras. Fiquei menos impressionada no quesito elegância e chiqueria autêntica. Achei eles meio “montados” demais. (Consuelo Blocker)
Let’s call it a wall of peacock males – sitting, posing and eyeing others strutting by. (Suzy Menkes)
Fotos: Vogue, Consuelo Blocker, Le 21éme