Alguém ia me dizendo outro dia: Eu gosto do seu estilo de se vestir, é… Confortável, completei sem esperar o fim da frase.
E é assim mesmo, eu nunca quis ser bela a qualquer custo, nunca gostei de nada que me apertasse, me machucasse, me pinicasse, me fizesse suar ou passar frio, ou que me obrigasse a ficar me vigiando pra não revelar mais do que eu queria. E com o passar dos anos isso só foi piorando. Hoje conforto tornou-se pra mim uma questão absolutamente não negociável e não sacrificável.
E parece que não sou a única a pensar assim. Em sua última coluna para o The New York Times, a editora de moda Cathy Horyn argumenta que, hoje, acima de tudo, ela e muitas mulheres como ela, querem roupas que ofereçam conforto. Segundo ela, “o desejo por conforto é profundo e está moldando atitudes e mercados“. E conforto pra ela não são roupas largas e disformes, são roupas práticas, clássicas, duradouras, enfim, roupas que sintetizem o jeito de viver da maioria das mulheres hoje em dia, de qualquer idade. Roupas em que possamos nos mexer dentro delas e sapatos com os quais possamos andar.
Realmente, quem mais hoje em dia tem tempo e energia, sem falar em dinheiro, pra se manter sempre na última moda, perder horas na frente do espelho experimentando combinações ou pra correr de um lado pro outro num salto 10?
Ela não entra no mérito da importância ou não da indústria da moda, e nem precisava, que assistiu ao filme O Diabo Veste Prada já recebeu sua lição, diretamente da boca de Miranda Priesley,
Esta “coisa”? Ah, entendi. Você acha que isso não tem nada a ver com você. Você abre o seu guarda-roupa e pega, sei lá, um suéter azul todo embolado porque você está tentando dizer ao mundo que você é séria demais para se preocupar com o que vestir. Mas o que você não sabe é que esse suéter não é somente azul. Não é turquesa. É “cerulean”. E você também é cega para o fato de que em 2002 Oscar de la Renta fez uma coleção com vestidos somente nesse tom. E eu acho que foi Yves Saint Laurent, não foi? Que criou jaquetas militares em ‘cerulean’. Eu acho que precisamos de uma jaqueta aqui. E o ‘cerulean’ de repente apareceu nas coleções de oito designers diferentes. E logo chegou às lojas de departamentos. E acabou como um item de liquidação nessas lojinhas de beira de esquina. E foi assim que chegou a você. E sem dúvida esse azul representa milhões de dólares e incontáveis empregos. E é meio engraçado como você acha que fez uma escolha que te exclui da indústria da moda, quando, na verdade, você está usando um suéter que foi selecionado para você pelas pessoas nesta sala entre uma pilha de “coisas”.
mas a questão é: para quem é tudo isso que a gente vê nas passarelas e para ir aonde? Interessante ouvir isso da boca de uma pessoa como Cathy Horyn, que circulou e ganhou seu pão por mais de 20 anos neste meio de criadores da moda.
Ela explica: “Ultimamente tenho notado cada vez mais mulheres, todas elas envolvidas com suas carreiras e rotinas familiares complicadas, todas elas com um olhar para a moda, gravitando em direção a um uniforme quase masculino de calças de corte slim, pulôveres e sapatos baixos. Ou uma jaqueta de couro e blusas finas por baixo. Quase sem maquiagem, o que as deixa com uma aparência jovial (todos sabemos que muita maquiagem envelhece). Nos últimos desfiles em Paris constatei que até minhas colegas francesas haviam começado a substituir seus adorados stilettos por saltos baixos. Isso deve ter sido uma grande concessão para elas, pensei. Algo deve estar acontecendo, pois estas mulheres não fazem nada simplesmente por um capricho.”
É o triunfo do conforto sobre a moda. Todas nós queremos ser elegantes, gostamos de coisas bonitas e novas, gostamos de entender de moda, mas não estamos mais dispostas a sermos vítimas ou escravas dela. Estar na moda não necessariamente é sinônimo de estar bem vestida e como já disse Coco Chanel: “Luxo tem que ser confortável, senão não é luxo”.
I have been wearing a white blouse all my life…They are classic with a modern twist and they are very feminine, for a real woman. It is about simplicity — they don’t look complicated — it has to look effortless. Carolina Herrera
Fotos: Carolines Mode, The Sartorialist, Refinery29, Pinterest