Irreverente e inspiradora: a história de uma MULHER DE 60 e de sua casa

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“Let’s Misbehave” já aconselhava Cole Porter em sua canção escrita em 1927. Noventa anos se passaram, mas o conselho continua atual. Brenda Cullerton, a proprietária deste apartamento em Greenwich Village, Nova York, segue este conselho à risca e a sua história e seu estilo irreverente são realmente inspiradores. Brenda tem 65 anos e trabalhou a vida toda como redatora publicitária para as mais famosas revistas de moda americanas, aos 50 resolveu escrever um livro e lançou suas memórias, logo depois escreveu uma novela policial. Ano passado, aos 64, descobriu sua paixão pelos palcos e estreou uma comédia stand-up com o título Jay-Z & Me: A One Woman Show, que conta sobre a obsessão de uma mulher branca nos seus 60 anos pela lenda do hip-hop.

Com uma decoração que não segue nenhuma regra, a não ser as da dona da casa, o apartamento representa o espírito livre, a paixão por estar sempre se renovando e os dois polos da personalidade de Brenda: o lado incansável, que está sempre se transformando e que viajou o mundo inteiro, e o lado caseiro, que gosta de um lugar aconchegante pra não ter que sair de casa pra nada.



Fanática por peças que contam uma história, Brenda não se resume àquelas que contam a história da sua própria vida, histórias de outras pessoas também têm lugar em sua vida. Ela e o marido decoraram o apartamento com muitos móveis e objetos, que compraram através do Craigslist, um site de classificados online muito parecido com o nosso OLX. E como as transações neste site normalmente requerem encontros cara-a-cara, em cada uma de suas compras ela tinha a oportunidade de encontrar alguém ansioso para dividir sua história. E, segundo Brenda, quanto maior o objeto, mais dramática a história. “Eles mal podiam esperar para fazer confidências, ou porque estavam muito deprimidos ou muito contentes“, conta.
“Eu não consigo me imaginar contratando alguém para decorar meu apartamento. Eu não tenho interesse em morar em um signature space de alguém ou de gastar um monte de dinheiro com uma marca qualquer.”
“Minha peça favorita é um painel de madeira incrustado com espelhos, que fica sobre o sofá na sala de estar. Ele vem de um antigo palácio no bairro cristão de Aleppo, uma das cidades mais generosas que já visitei. Encontramos o espelho em uma pequena oficina na extremidade dos souks, onde hoje há apenas escombros. A loja estava na família há quatro gerações. Negociamos por duas horas com o proprietário, como é comum no Oriente Médio. Toda vez que olho o espelho, eu me pergunto: Onde estará este negociante hoje? E a sua família? Lembro-me muito bem da nossa conversa, do café que tomamos, do seu sorriso e até mesmo da fotografia de seu avô. Sempre que leio sobre o horror de Aleppo, eu sinto essa conexão, por mais fraca que ela tenha sido. Eu era apenas uma turista e este homem estava tão orgulhoso de seu trabalho, da sua história e da cidade que era seu lar.”
Outra peça favorita de Brenda é um carrossel de madeira dos anos quarenta, que veio de uma serralheria no Wyoming e que ela arrematou em um leilão. “Eu tinha que tê-lo, porque ele apela para um lado de mim que se manteve criança. Muitas coisas têm este efeito na minha casa. Eu associo a elas uma certa ousadia, do tipo que se tem antes de se tornar um ‘adulto’: o prazer de experimentar com cores e de misturar listras com bolinhas, novo com o velho, a atração por coisas que brilham e reluzem.”
“Eu acho que é uma das tragédias de se ficar mais velho é como as pessoas se tornam muito centradas em si mesmas, morrem de medo de serem julgadas. A vida se reduz a ser ‘liked’, ‘followed’. E o mais triste é que isto serve até para suas casas, um lugar onde você deveria se sentir seguro, seguro o suficiente para se atrever a fazer algo diferente, a contar sua história pessoal. Hoje, as pessoas só se sentem seguras quando dizem e fazem o mesmo que todos os outros. Eu não entendo. Nossa casa é para ser um lar e não um … showroom, não é mesmo?”